Já nas bancas, para quem não viveu a época áurea das bancas de jornais, um local que estimulava o hábito de leitura e que oferecia diversidade de conteúdos e opiniões, fossem através dos diários locais e nacionais que vendiam ou das inúmeras outras publicações que expunham – livros, revistas, fascículos, etc. Um ótimo local para criar hábito de leitura.
O documentário exibido pelo Discovery, na TV paga, me trouxe muitas recordações. Fui durante anos cliente da Banca do Natal, que ficava na Praça Costa Pereira, em Vitória. E fui um cliente assíduo e fiel. Passava nela quase todos os dias, vendo as novidades, e pegando os jornais que, à época lia, notadamente os de fora do Estado.
PARA EMBRULHAR PEIXE
Além de levar a informação, muito menos disseminada que hoje, quando tudo está na internet, encontrava outros fregueses, batia papo, ouvia histórias e acompanhava o bom humor do Natal, um dos personagens da cidade na época. Infelizmente, ele se foi cedo, depois de ter deixado a banca.
Uma das histórias, era sobre os jornais de domingo, volumosos, não só devido à publicidade, mas ao conteúdo especial que ofereciam, como longas reportagens e assuntos especiais, cadernos extras, etc. O Natal era um gozador e quando alguém chegava perguntando, por exemplo, se tinha o Estadão – jornal Estado de São Paulo – ele perguntava:
– Por que você que o jornal, vai embrulhar peixe?
Quem ouvia, ria com ele e o freguês, às vezes, não entendia a brincadeira. Na época, jornal velho ou lido era um dos principais meios de embrulhar as coisas e as edições dominicais propiciavam vários embrulhos, principalmente com o Estadão, que tinha centenas de páginas. O Natal tinha não só o jornal, mas vários outros de fora e, na época, os quatro diários de Vitória.
PARA SOBREVIVER
O mundo mudou, as bancas mudaram como muito bem mostra o documentário. Ele usa depoimentos de antigos banqueiros, que ainda continuam em atividade, e faz o contraste entre o ontem e o hoje. Nos tempos áureos, pilhas enormes de jornais se acumulavam na banca. O jornal A Gazeta, de Vitória, onde trabalhava, chegou a vender mais de 100 mil exemplares, para se ter uma ideia.
Hoje, os jornais ainda resistem, a maioria deles, precariamente. As vendas caíram, assim como a publicidade, que os sustentava. Ainda existem revistas, mas elas seguem o mesmo destino. As bancas se transformaram, como mostra o documentário. Viraram um shopping de rua.
Era o único jeito de sobreviverem.