As pequenas cenas do cotidiano nos ajudam a navegar nesses dias de quarentena

AS CENAS DO COTIDIANO NOS DIAS DE QUARENTENA

O nosso cotidiano é feito de muitas cenas de nosso dia a dia e não mudou nos dias de quarentena. É o problema no trânsito, a conversa de alguém, o encontro com o conhecido, a observação de detalhes que não tínhamos visto antes, o encontro inesperado, as flores na natureza e comportamento errático dos humanos.

Vivemos – e não é diferente nos dias de pandemia – no micro. E são as pequenas coisas que nos chamam a atenção. Sim, o macro mudou. Estamos no isolamento social – pelo menos uma parte da população, aquela que pode. Mas isso não nos impede de continuar observando e descobrindo, no dia a dia, o que não víamos antes ou, mesmo, ter um olhar diferente para o que era corriqueiro e já integrava o nosso cotidiano.

PASSARELA DOS BARCOS

Completando 80 dias de isolamento, tenho refletido em como é o meu cotidiano e o que nele mudou. A primeira constatação é que o mundo está lá fora, só alcançável através da tecnologia, não do contato físico, limitado ao espaço da residência e a quem nela vive. No meu caso, minha esposa. Somos os dois a ocupar nossos dias dentro de casa e procuramos preenchê-lo, para que não se tornem vazios.

Moro em um local que poderíamos chamar de bucólico e uma das coisas que me chama a atenção são os pássaros, sua diversidade, e os cantos mais variados. A cada dia descubro um novo canto e também pássaros que não tinha visto antes. O tempo de observação aumentou e cada pequena descoberta é um pequeno prazer que enche o meu dia.

VÔO FÁCIL

Dentre os pássaros há um que me fascina, o urubu. Ele não tem nada de especial, a não ser a maneira como voa, o que faz sem nenhum esforço, aproveitando as térmicas – correntes de ar quente – para ir se elevando, até praticamente sumir na altura e na distância. Ao circularem no início do voo, eles passam muito próximo de minha varanda. Sento-me nela e fico observando, talvez despertado pelo velho sonho de Ícaro, com suas asas postiças. Nós, humanos, não voamos.

Ou melhor, voamos sim. E os parapentes que decolam do Morro do Moreno, ao lado do meu apartamento são a prova disso. Mas esse voo é para poucos e eu não sou um deles. Adrenalina não me atrai, mas é uma das cenas do cotidiano que observo e vejo humanos se misturarem com os urubus na circulação em que aproveitam as térmicas.

PASSARELA DOS BARCOS

Outra cena comum são os navios e barcos. À frente do meu apartamento está o canal de Vitória e ele é uma passarela para os barcos, grandes e pequenos. Os maiores chegam escoltados por rebocadores. Sentado na varanda, vejo-os passar e noto os detalhes diferentes, cores, tamanho e  até se estão indo mais rápido ou devagar.

E nessa passarela também passam os pequenos barcos de pescadores, muitas vezes seguidos por bandos de gaivotas à espera de uma refeição fácil. E tem ainda os jetesquis e as lanchas, colocadas na água em uma rampa em frente do prédio ondo moro. Observando-os dá para ver que não são iguais e ainda ver como seus donos se comportam. Alguns, exibidos. Outros, mais contidos.

E O TRABALHO

No meio de tudo isso – e de muitos outros pequenos detalhes da vida no dia a dia – ainda há o trabalho que, no meu caso, não tem horário fixo, já que sou meu próprio empregador. E é nesse momento que me valho da tecnologia, comparecendo a reuniões, discutindo questões relativas à comunicação e aconselhando posturas.

E há sempre o computador. É nele que produzo e que me informo. Acordo, vejo as informações, escrevo, ouço música, exploro novos assuntos, paro e observo o mundo lá do lado de fora e repito. Ajudo nas tarefas da casa, eventualmente faço pães e sigo adiante.

Até agora, são estas pequenas ações que preenchem o meu cotidiano e estão me ajudando a navegar nesses dias de quarentena, do novo coronavírus e da Covid 19. E posso afirmar que estou navegando bem, em águas tranquilas e com os olhos no horizonte, sabendo que na chegada o mundo estará diferente daquele que deixei para trás – e que não mais voltará.

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