UM NOVO PADRÃO HUMANO

Há alguns dias, chegando para almoçar em um desses incontáveis self-services, que encontramos em qualquer canto das cidades e espalhados por todo o país, deparei-me com o restaurante cheio, com os assentos tomados e poucos lugares vagos. Como estava sozinho, foi mais fácil conseguir um lugar. Deixei a mesa devidamente marcada e fui me servir. Na volta, à  medida que almoçava observava as outras pessoas que também tomavam o seu almoço, defeito (?) criado pela deformação profissional de jornalista, que é ensinado a estar sempre atento a tudo que ocorre à  sua volta.

Pelos meus cálculos, no horário deviam estar no restaurantes pelo menos umas 100 pessoas. Sim, o restaurante é grande e tem um grande fluxo de clientes. Dos que lá estavam – homens, mulheres e crianças – pelo menos 60% estavam acima do peso, alguns com evidentes sinais de obesidade, denotados, na maioria das vezes, pelas barrigas proeminentes, um estado que eu próprio já vivi, mas que decidi mudar há algum tempo, esforçando-me para não só perder peso, mas para viver uma vida mais saudável.

Não, não tenho nada contra os gordos, os obesos. A observação, neste caso, levou-me a uma reflexão e, dela, a conclusão de que nós, humanos, estamos mudando de padrão. Se isso não é verdade universal, parece ser para a parte da humanidade que vive no que chamamos de Ocidente, com raríssimas exceções. De magros e rápidos, exigência da evolução, quando tínhamos poucos alimentos e enfrentávamos vários perigos, aos poucos fomos nos tornando lentos e engordando.

Para isso concorreu o sedentarismo e o volume de alimentos à  disposição. É difícil, como no caso do ovo ou da galinha, dizer o que veio primeiro. O fato é que, aos poucos, fomos ficando mais imóveis, sentados em confortáveis escritórios com ar condicionado, viajando em confortáveis automóveis, trens ou aviões e comendo, comendo muito, já que vivemos uma abundância de alimentos, com um consumo muito acima do simplesmente necessário para a nutrição do corpo e sua manutenção.

Sim, é verdade que ainda vemos pessoas esquálidas, subnutridas, muito magras, mas elas não são a regra. Esta, certamente, é de pessoas bem alimentadas, que tem à disposição muito mais do que precisam. E isso fica claro quando se vai a um self-service. A variedade oferecida acaba induzindo a comer mais, provando de cada um dos pratos oferecidos. No final, o que vemos são montanhas nos pratos, quase que totalmente completados com carboidratos- muita massa, muita batata frita, carne e poucas verduras e fibras – completados com abundância de refrigerantes, com um único casal, à  minha frente, tomando dois litros de coca cola.

Depois de tudo ainda vem a farta sobremesa, que quanto mais doce e com mais calorias melhor. Juntando tudo, cada pessoa está ingerindo, pelos meus cálculos, mais do dobro de calorias que precisa para se alimentar. O resultado é que a maioria está ficando roliça, começando na infância, seguindo pela juventude e chegando à  idade adulta, quando o perfil está formado. De meu lado, com um magro prato composto de legumes, verduras e carne, com um suco natural, sem açúcar, chego a pensar que todos me olham e me acham estranho. Talvez até seja, mas isso é apenas questão de ponto de vista.

O que estamos vivenciando, pensei durante o almoço e depois dele, é um novo padrão humano. Superamos os tempos em que o belo era o esguio, o corpo delineado, bem contido. Não sei, de verdade, se já chegamos a um novo conceito de beleza, mas o fato é que, andando pelas ruas, indo a shoppings, almoçando em self-services, entrando em aviões ou simplesmente observando as pessoas constatamos que houve mudança. Já não somos magros, invertendo-se os tempos em que ser mais gordo era ser diferente. Hoje, é ser igual.

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