PENSAMENTOS (QUASE) PROFUNDOS

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Acho que já falei aqui de uma secção mantida, há anos, na revista Pais e Filhos por Pedro Bloch. Ela se chamava “Criança diz cada uma…” e contava histórias incríveis de crianças e suas tiradas, as mais inusitadas possíveis. E elas iam de saias justas para os pais a situações das mais hilárias, fruto da inocência da criança ou do seu descompromisso com a etiqueta que, nós adultos, temos de seguir.

O fato é que gostava muito da secção. E acho que o fato de me lembrar dela comprova isso. Ficou o que os especialistas da propaganda chamam de recall, uma palavra sofisticada para lembrança. Mas por que tudo isso? É simples: recebi por e-mail, vindo de Portugal, alguns “pensamentos” de crianças do que lá eles chamam de segunda classe – não, não são as crianças, é o ensino – que poderíamos dizer aqui ser do segundo ano.

Não sei como diriam as crianças brasileiras, mas acredito que não fariam muito diferente das portuguesas. Se olharmos bem, veremos que são pensamentos (quase) profundos e que, no final, são bem lógicos. Veja-os:

  • Em Portugal os homens e as mulheres podem casar. A isto chama-se monotonia.
  • Em nossa casa cada um tem o seu quarto. Só o papá é que tem de dormir sempre com a mamã.
  • Os homens não podem casar com homens porque então ninguém podia usar o vestido de noiva.
  • Os meus pais só compram papel higiénico cinzento, porque já fui utilizado e é bom para o ambiente.
  • Adoptar uma criança é melhor! Assim os pais podem escolher os filhos e não tem de ficar com os que lhe saem.
  • Eu não sou baptizado, mas estou vacinado.
  • A Primavera é a primeira estação do ano. É na primavera que as galinhas põem os ovos e os agricultores põem as batatas.
  • A minha tia tem tantas dores nos braços que mal consegue ergue-los por cima da cabeça e com as pernas é a mesma coisa.
  • Um círculo é um quadrado redondo.
  • A terra gira 365 dias todos os anos, mas a cada 4 anos precisa de mais um dia e é sempre em Fevereiro. Não sei porque. Talvez por estar muito frio.
  • A minha irmã está muito doente. Todos os dias toma uma pílula, mas às escondidas para os meus pais não ficarem preocupados.

Pensando bem, vemos que há uma lógica nela. Pegue o caso de Fevereiro, por exemplo. Por que tem de ser nele? Se para um adulto é difícil de entender, imagine para uma criança. E o que dizer de todos terem o seu quarto, menos o papai e a mamãe? Não seria lógico que eles também tivessem o seu?

Uma coisa posso afirmar: estas crianças sabem construir um pensamento bem melhor do que muito dos nossos participantes do Enem. Afinal, estão começando na vida e na escola. E os nossos, hein…?

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Pensar parece não ser a atividade mais praticada nos dias de hoje. E isso é reforçado a cada dia pelo que vemos e lemos e, sobretudo, pela qualidade do ensino brasileiro. Temos, sim, ilhas de qualidade, mas um mar de mau ensino. Então, acho que nada melhor do que fazer pensar do que boas frases:

“O primeiro método para estimar a inteligência de um governante é olhar para os homens que ele tem ao seu redor. Maquiavel, filósofo italiano

“Conte-me, e eu vou esquecer. Mostre-me, e eu vou lembrar. Envolva-me, e eu vou entender”. Confúcio, filósofo chinas.

As frases não se parecem em nada com a das crianças portuguesas e, neste caso, podem ser tomadas como indicação de ações. Maquiavel e Confúcio sabiam o que diziam.

E que todos tenhamos um ótimo final de semana.

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