ME DIGA, QUAL É A SUA HISTÓRIA?

Qual é mesmo a sua história? Certamente, em algum momento, você já ouviu esta pergunta e ficou pensando no que dizer. Curioso que a gente não pensa em que tudo que fazemos e que falamos são histórias. Olhe o ontem, por exemplo. O que foi que aconteceu? Certamente você se lembrará dos detalhes. Mas será que foi assim mesmo? Peça a outra pessoa para contar e verá que muitos detalhes são diferentes, pois cada um tem uma visão única do que acontece, seja com ele próprio, seja com aqueles que estão à sua volta, em casa, no trabalho, divertindo-se, enfim, em tudo.

Somos o que somos por causa de nossas histórias, pois mais simples que sejam. Há algum tempo havia a percepção de que o homem era o único animal inteligente no planeta. Hoje, ninguém tem dúvidas de que outras animais são tão inteligentes quanto nós os somos. Veja o caso dos golfinhos, que tem – como os humanos – uma linguagem sofisticada, uma comunicação que pode mapear o que estão fazendo, indicando caminhos e mostrando onde está a comida. Ou o caso dos chimpanzés, capazes de aprender e de usar novas técnicas para conseguir o que querem.

Sim, a inteligência não é uma exclusividade dos humanos. Mas o que nos diferencia, mesmo, destes animais é que temos história. Um golfinho não sabe – pelo menos os cientistas ainda não descobriram – o que lhe aconteceu ontem. E os chimpanzés, por mais perspicazes que sejam, não sabem contar uma boa história, fazer rir, despertar o interesse ou simplesmente reclamar que está cansado, que precisa trabalhar menos e ganhar mais. Você já havia pensando nisso?

Há, relacionado ao fato de estarmos sempre a contar histórias, uma outra implicação: estamos falando sempre do que já aconteceu. O agora, quando o vivemos, será passado dentro de muito pouco tempo. E é deste passado, do que aconteceu, que falamos. Na verdade, afirmam os especialistas, nós construíamos o passado, vivendo o presente e sonhando com o futuro. Deste, almejamos que nos aconteça o melhor, mas nunca sabemos, de forma efetiva, o que vai ocorrer. É o que fizemos, como o fizemos que nos molda. Onde eu estudei? O que estudei? Com quem estudei? Fui bom aluno? Fiz bons amigos?

As perguntas, normalmente, estão sempre direcionadas ao passado. É verdade que também constantemente nos perguntamos o que faremos amanhã£. Podemos programar tarefas, antever o que pretendemos fazer, mas não podemos garantir que será feito. O futuro ainda vai acontecer e, dele, só temos o desejo que aconteça. Com o passado, é diferente. Ele já aconteceu, faz parte de nossas vidas e, por isso, podemos contar as histórias que o envolve. E sejam elas muito boas, que nos trazem ótimas lembranças, ou o pior mico que já pagamos. É isso – o bom e o ruim, as boas e más histórias – que nos define.

Há ainda uma outra questão a respeito de nossas histórias. É delas que derivam literatura, teatro,  cinema e televisão. Todos contam histórias. E nós os chamamos de ficção por contarem algo que, em princípio, não aconteceu “de verdade”. Neles, a ficção confunde-se com o real, transformando fatos em histórias e histórias em fatos. Um exemplo? Os realities shows. O que deveria ser um show mostrando a realidade não passa de um grande ensaio, com diretores determinando comportamentos e o que cada um fará. É uma encenação, uma história. Exatamente como é história o que nos aconteceu ontem.

Agora, pense: O que na sua vida é real? Será que a sua história não tem muito de ficção? Sim, tem. Mas isso não importa, pois faz parte da natureza humana fantasiar, até como forma de amainar a realidade. Como dizia Lacan, ninguém é capaz de ver a realidade. O que vemos são flashes dela. O resto, preenchemos com histórias, as nossas histórias. E são elas, como já afirmado, que nos fazem o que somos. Nós, na verdade, nos construíamos. E isto é um fato.

Então, me diga qual é a sua história?

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