JOVENS, CASAMENTO E REBELDIA

Quando o movimento hippie estava no auge muito se falava sobre o fim do casamento. As famílias, dizia-se então, teriam uma outra configuração, mas o casamento não mais seria a sua âncora. Pregando a liberdade em todos os campos, inclusive nos relacionamentos, o movimento fez com que as coisas mudassem e, com elas, todos nós mudássemos, tenhamos ou não participado desta época. Uma das consequências do que ocorreu lá atrás é a relativa liberdade sexual que homens e mulheres tem hoje.

A questão do casamento, instituição contestada pelos hippies, volta agora a tona e o assunto tem sido tratado pela mídia de um modo geral. Aqui, no Espírito Santo, por exemplo, um levantamento mostrou que em alguns casos há necessidade de agendamento da cerimônia em uma igreja católica com mais de um ano de antecedência. Paradoxalmente, o jovem continua rebelde, mas esta rebeldia não o leva para longe de um relacionamento estável, do desejo de constituir uma família e, portanto, casar-se.

E isto é o que mostram duas matérias publicadas na semana passada. A primeira, na revista Época, expõe os números de uma pesquisa sobre religião e religiosidade, mostrando que o jovem brasileiro prende-se a uma crença, a uma prática religiosa e que considera seriamente seguir os princípios daquilo em que acredita. A segunda, por A Gazeta, de Vitoria, com base em um levantamento feito pela MTV brasileira. As duas apontam mais no sentido da conservação do que da mudança no comportamento dos jovens. Sim, podem ser rebeldes, mas até um determinado ponto que não afete o que pensam ser importante e, dentre elas, destaca-se a família.

A ideia de que, em um determinado tempo queremos mudar o mundo – e foi o que os hippies nos deixaram, mostrando que poderíamos fazer a diferença – parece que não seduz mais a juventude. Ela está mais preocupada em preparar-se para o futuro e isso significa ganhar dinheiro. Para conseguir seu intento, acha que todo sacrifício é válido, reconhecendo que o estudo, o conhecimento, é essencial a isso. Parece que assumiram a essência do capitalismo, onde o que importa é ter. O ser, com isso, ficou meio de lado e talvez fosse ele que impulsionasse a rebeldia.

A imagem que fica do jovem brasileiro, no final, não é muito diferente da imagem do brasileiro, em si, como nos lembra, e bem, o sociólogo Alberto Carlos de Almeida no seu livro A cabeça do brasileiro (veja Somos o que pensamos). Nele, nos mostra, basicamente, que o brasileiro é conservador. E hora, se nossos país e toda a cultura que nos cerca são conservadores, como poderemos ser revolucionários? E esta parece ser a questão – como mostram as pesquisas – em relação aos jovens que são religiosos, pregam a fidelidade e sonham com uma família estável, construída a partir do casamento.

No final, ao que parece, o que os jovens atuais querem é serem bem sucedidos na vida, manter uma família sólida e ter espaço para praticar suas crenças. Aliás, voltando a elas, a religiosidade no Brasil aumentou. E não é só do lado mais visível, dos evangélicos não. Também se dá em relação aos católicos. Tanto é assim que segundo a pesquisa publicada por Época, mas de 83%. É bem verdade que nem sempre se segue a ortodoxia, mas o pano de fundo está lá, servindo como base para o comportamento da pessoa.

Neste contexto, a rebeldia – pelo menos a que vimos com os hippies, com os estudantes franceses em 1968 e em várias outras oportunidades – não mais existe. Parece – a se crer nos números apurados pelas pesquisas – que os jovens desistiram de mudar o mundo. Preferem, agora, conquistá-lo não através do poder político, mas do monetário. Então, focam-se no ter.

Quem é que pode condená-los por isso? Não é exatamente isso que vimos ensinando?

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