Em Matrix, o filme, Neo, seu herói, é colocado diante de duas possibilidades, representada por duas pílulas. Se tomar a pílula branca, continuará vivendo no mundo da fantasia, achando que é um burocrata especialista em computadores. Se escolher a vermelha e tomá-la, Morfeu promete que irá lhe mostrar a realidade, o que é real, tirando-o do sonho da matrix.
A cena serve-nos, aqui, para avançar em um tema que é polêmico, mas que vem sendo defendido com êxito pelo cientista Amit Goswami, que é a existência de uma interconectividade entre ciência e religião. Físico, doutor em Física Quântica, ele nos ensina que o mundo, tal como a matrix do filme, é feito de possibilidades e que estamos sempre escolhendo entre elas. Assim, talvez, sejamos nós que determinemos o que é real, já que somos nós que o construímos.
Confessando-se um ex-materialista que mudou devido aos seus estudos, Goswami desenvolveu um conceito que chama de casualidade descendente. Explica que, ao contrário do que a ciência sempre pregou, as coisas não começam em baixo e sobem, começando com partículas elementares e chegando à consciência, ao cérebro, que no final comanda todas as ações. Na Física Quântica, a consciência não é o final, mas um componente, abrindo, segundo o cientista, a possibilidade de unir o material com o transcendental.
O dr. Amit Goswami esteve no Brasil, falou com o Roda Viva, da TV Cultura, e deu uma entrevista para a GloboNews, sempre abordando a questão da possibilidade da existência de uma interpelação entre o material e o sobrenatural. De acordo com ele, é exatamente a casualidade descendente que abre a porta para a entrada de Deus na ciência. E prevê que a partir do desenvolvimento da Física Quântica, ela seria capaz de provar a existência de uma entidade superior, que dá sentido ao mundo.
Voltamos, então, a Matrix. No filme, ela age como este ser superior que dá coerência ao mundo, pelo menos um dos mundos possíveis. E ele pode – e é – mudado a partir de uma opção. Ao escolher a pílula vermelha, Neo deixa a matrix e começa a viver uma nova realidade. Diante da possibilidade, ele fez uma opção. E é isso o que fazemos todos os dias. Ao escolher, por exemplo, um vestido e não outro, a mulher está criando uma nova realidade. Ela seria diferente se a escolha fosse diferente.
É nesse sentido, de termos ou convivermos com várias realidades, que Goswami afirma que temos, sempre, dois lados. Um é objetivo, materialista. O outro, místico. O que ele desenvolve, a partir da Física Quântica, é fazer com que estes dois lados se falem, se interconectem, juntando o material e o espiritual. Ele crê nisso, de verdade, e afirma que a Física Quântica fará esta ligação.
Integrados em uma consciência cósmica, segundo ele já provada pela Física Quântica, o homem pode unir a razão, a ciência, à crença, fazendo com que as duas ganhem sentido e unam realidades diferentes, hoje completamente desconectadas. E quando isso acontecer, Deus terá uma existência objetiva, provada pela ciência. Estarão unidos, então, os lados material e espiritual.
É, sem dúvida, uma postura surpreendente. Mas de uma coisa ninguém pode duvidar: Amit Goswami é um cientista sério, respeitado no seu meio. Se o que ele acredita irá se realizar, aí já é outra história.
11 Respostas
Coisa incrÃvel, né, Lino? Quando comecei a conhecer o budismo, me explicaram que no filme, Matrix, existem várias cenas em que ele é vivenciado.
Há tantas coisas pra se desvendar/aprender…
Bjao e otima semana.
E põe surpreendente nisto,LINO. vai contra tudo o que lemos ate hj.
Abração!!
Muito, muito interessante esse texto. E leva a gente a pensar nas possibilidades desse encontro do real, objetivo, com o mundo mÃstico, feito de leis que fogem à logica tradicional do cartesianismo, não?
Eu fiquei fã desse cientista. E vou andar atrás ele nas pesquisas.
Beijos, Lino.
Dora
Vivendo a prendendo, aliás surpreendendo.
Mas que dá um nó na cuca isto dá.
Não conhecia esta tese e nem este cientista, vou pesquisar para me interar melhor sobre o assunto que achei interesante.
Abraços
Pois é, o difÃcil é a gente fazer a escolha certa.
Existe o certo, tb? sei la… tudo vago neste mundo,nada é certeza.
Bjs Laura
Lino.
Ótimo texto, é sempre louvável discutir sobre questões q parecem fugir da nossa lógica, esse cientista é alguém q assume q somos seres limitados e se enxergamos distorcidos as coisas é pq a escolhemos dessa forma. Seria interessante no dia q ciência e misticismo pudessem dialogar, mas enquanto esse tempo comum não chega, resta a polêmica e nossa reflexão.
Beijos Poéticos.
;****
Oi Lino
É tudo muito louco, mas até que faz algum sentido (rss). DifÃcil mesmo vai ser o Amit Goswami conseguir fazer o que se propõe, mas eu fico esperando.
Mas o seu texto me lembrou um texto que recebi por e-mail. Não sei lhe precisar se é ou não verdade o relato, mas aà segue (se souber, me diga):
“Fato ocorrido em 1892,
Um senhor de 70 anos viajava de trem tendo ao seu lado um jovem universitário, que lia o seu livro de ciências. O senhor, por sua vez, lia um livro de capa preta. Foi quando o jovem percebeu que se tratava da BÃblia e estava aberta no livro de Marcos.
Sem muita cerimônia o jovem interrompeu a leitura do velho e perguntou:
– O senhor ainda acredita neste livro cheio de fábulas e crendices?
– Sim, mas não é um livro de crendices. É a Palavra de Deus. Estou errado?
– Mas é claro que está! Creio que o senhor deveria estudar a História Universal.
Veria que a Revolução Francesa, ocorrida há mais de 100 anos, mostrou a miopia da religião. Somente pessoas sem cultura ainda crêem que Deus tenha criado o mundo em seis dias. O senhor deveria conhecer um pouco mais sobre o que os nossos cientistas pensam e dizem sobre tudo isso.
– É mesmo? E o que pensam e dizem os nossos cientistas sobre a BÃblia?
– Bem, respondeu o universitário, como vou descer na próxima estação, falta-me tempo agora, mas deixe o seu cartão que eu lhe enviarei o material pelo correio com a máxima urgência.
O velho então, cuidadosamente, abriu o bolso interno do paletó e deu o seu cartão ao universitário.
Quando o jovem leu o que estava escrito, saiu cabisbaixo sentindo-se pior que uma ameba.
No cartão estava escrito:
Professor Doutor Louis Pasteur,
Diretor Geral do Instituto de Pesquisas
CientÃficas da Universidade Nacional da França.
“Um pouco de ciência nos afasta de Deus.
Muito, nos aproxima.”
Louis Pasteur
Lino, sou completamente fascinada por este assunto. Quando criança fui mergulhada na educação religiosa, adulta na cientÃfica, logo a segunda “venceu”. Mas sempre procurei a ponte para ligar as duas, muitos grandes cientistas com a idade mudaram sua visão materialista do mundo e se aproximaram da visão religiosa, e eu queria entender porquê. Você já leu “O Tao da FÃsica” de Fritjof Capra? É um dos meus livros “de cabeceira”, traça um paralelo entre as religiões orientais e a fÃsica quântica.
Adorei este post, parabéns!
Um abraço.
Assunto fascinante e que maravilha quando a ciência confirma as coisas de Deus, senao estarÃamos completamente perdidos.
Belo texto.
Boa semana
Pronto! Cheguei aqui lépido e faceiro, leio teu texto e, extasiado começo a pensar e revirar caraminholas na minha cauxa de intelectualidade. Volto à rotina! Obrigado por me despertar.
Como FÃsico, não gosto de misturá-la com a religião.
Depois que a teoria da FÃsica Quântica tornou-se evidente, alguns cientistas viram a possibilidade de unir FÃsica e religião, por causa da possibilidade de outras dimensões e/ou universos paralelos, deturpando totalmente a ciência.