Copa do Mundo: Humilhação mostra que Brasil precisa mudar tudo no futebol

COPA DO MUNDO, ESPORTE E A SELEÇÃO BRASILEIRA

Agora que a cabeça está mais fria já podemos olhar a humilhante derrotada da Seleção Brasileira para a Seleção Alemã com algum distanciamento. A primeira pergunta que fiz, logo depois do jogo e continuo fazendo é: existe uma explicação para a derrota? Desde terça-feira ouvi muitos especialistas e li várias matérias sobre o assunto e ainda não tenho respostas firmes. As explicações são múltiplas, indo do excesso de carga emocional à má preparação, do futebol ultrapassado à má escalão, da falta de tática e estratégia à própria qualidade do futebol brasileiro. Quem está certo? Acho que, no final, todos eles, mas há algo mais no fundo da questão que precisaria ser abordado e que, sejam especialistas, sejam os torcedores, ainda não o foi.

O primeiro ponto que teríamos de atacar, no meu entender – e sou absolutamente leigo no assunto, falando apenas como torcedor – é a própria base do futebol brasileiro. Fomos convencidos, ao longo de muitas décadas, que temos o melhor futebol do mundo. Isso, de há muito, não é mais verdade. Na minha visão, o futebol brasileiro estacionou e, não só isso, passou a adotar as melhores práticas que os europeus, por exemplo, adotavam há duas três décadas, dando preferência à força sobre a técnica. E eles, enquanto isso, fizeram o caminho inverso, privilegiando a técnica, como muito bem mostrou a Alemanha. Hoje, na base, quem vence são os “fortões”, os brucutus, capazes de atropelar o adversário, mas incapaz de um bom drible. E a realidade confirma que esta é a regra, apesar dos Neymar Jr. como exceção.

Com a distorção na base, a formação de jogadores fica prejudicada e isso fica ainda pior por os clubes terem aberto mão deste trabalho. As categorias de base já não tem nenhuma importância, um trabalho a que o Barcelona, por exemplo, dá a maior atenção, tendo até um Barcelona B, que forma jogadores não só para o clube, mas que os acaba enviando a outros grandes, como é o caso de Tiago, filho do lateral Mazinho, que hoje está no Bayern de Munique. Neste aspecto, quantidade faz a diferença, como mostram exemplos dos recrutamentos do futebol americano e do basquete nos Estados Unidos. Existem milhões de jogadores e que são  peinerados até às universidades. A peneira final são as ligas profissionais. No final, tem os melhores.

Outro aspecto é a organização. O futebol e os clubes brasileiros, todos sabemos, são uma bagunça. Clubes como o Flamengo, que tem enorme torcida, vivem à míngua. Na verdade, tirando as poucas exceções, a administração dos clubes e do futebol brasileiro são prá lá de amadoras. Os dirigentes estão preocupados com a imagem pessoal, com a projeção política, não em gerir o clube, fazendo o que é necessário para que se torne sólido. E além de tudo há a doença endêmica, que é a corrupção. E isso sem contar os aproveitadores, que estão sempre à espera de uma oportunidade. Juntando décadas de tudo isso, acabamos desaguando no desastre de terça-feira. E o pior é que não há perspectiva de isso mudar, o que pode nos levar a um jejum de títulos muito longo.

O que parece ser a opinião unânime é que precisa haver mudança. Modelos existem e podem ser adaptados ao Brasil. Temos, aqui, o caso do próprio Vôlei, que se transformou de coadjuvante em protagonista, com um trabalho de longo curso. E temos muitos exemplos lá fora, começando pelo da própria Alemanha, que a partir da perda do título em 2002 começou um trabalho de reformulação que lhe deu a melhor seleção de futebol do mundo hoje. O que eles fizeram? Planejamento, organização, foco. O resultado é o que vimos em campo, um time que massacrou o Brasil, como se estivesse fazendo um treino contra uma equipe de várzea.

O esporte é importante e, para o brasileiro, o futebol encarna o próprio esporte, fazendo parte da vida da grande maioria. A derrota instalou a desesperança. Se a quisermos tê-la de volta, precisamos mudar e a mudança tem de começar agora, sendo feita às claras e mostrando que estamos iniciando um trabalho de longo prazo que visa a colocar o Brasil como o país do futebol.

 

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