AS PERIPÉCIAS DO “MOSQUITO”

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Era um domingo agradável. Na sala da casa, 15 pessoas reunidas e uma, a Márcia, era o centro de atenções. A razão para isso era simples: ela sabe como contar uma história e era isso o que estava fazendo, desenvolvendo-a aos poucos, chamando a atenção para os detalhes, indo em um crescendo e chegando ao ápice.

Quem não gosta de uma boa história? Acho que todo mundo gosta, principalmente se ela parece inventada, mas não é, e traz um ótimo humor. Explico: Ouvi a estória de uma das pessoas mais bem humoradas que conheço. E ela garante que é verdadeira, o que acredito. Então, vou contar o milagre, mas manter o santo anônimo.

Vamos a ela:

– Tia Branca, a senhora se lembra da Maria, do Alagados?

A pergunta foi feita o grupo, atento e já antecipando o que seria contado. A interrogação ficou um pouco no ar, e a tia Branca, respondeu:

– Aquela que era prima do João, que morava perto do rio?

– Essa mesmo. A senhora sabe que ela casou? E que teve um filho?

Dona Branca não sabia.

– Pois é. Ela conseguiu engravidar e teve um filho, que nasceu muito raquítico. De início, teve problemas, mas depois se aprumou. Permaneceu pequeno, no entanto…

A contadora faz uma pausa, sorri, olha os presentes e continua…

– … como era muito pequenino acabaram apelidando ele de Mosquito. E o apelido pegou. Agora, ele só é chamado assim.

Explicou que no interior, em cidades pequenas, sobretudo em Minas, os apelidos são muito comuns. E em alguns casos, as pessoas acabam sendo conhecidas só por eles. Se alguém perguntar pelos seus nomes, ninguém conhece.

– O Mosquito é pequenino, mas esperto. Também, com os pais que tem – pequenos que são – não poderia ser muito maior. Mas, tia, ele é bem, bem pequeno.

À medida que a história fluía, a curiosidade ia aumentando e as pessoas se perguntavam “onde é que ela quer chegar?”.

– Há algum tempo, a Maria e o marido foram passear na fazenda do João, que é perto do alagados. O Mosquito nunca tinha ido na roça, não conhecia as coisas, nunca tinha visto um pé de goiaba de perto, um pé de manga. Não estava acostumado com os espaços livres. Quando teve tudo isso, ficou excitado, começou a correr.

Todos começaram a imaginar o que teria acontecido ao Mosquito. Será que ele havia caído? Se machucado? O suspense ia aumentando.

– Pois, tia, a senhora não sabe. Em uma dessas corridas, o Mosquito acabou escorregando e, pequenino como é, caiu dentro de uma fossa. Em pânico, começou a gritar, alarmando a Maria, que saiu correndo.

Surpresos, os que ouviam a história tentavam imaginar a cena: um garoto pequeno, de seis anos, dentro de uma fossa, gritando a todos os pulmões, apavorado…

– A Maria correu. O João correu. Quando chegaram ao local da fossa viram o Mosquito que afundava, depois aparecia, gritando com toda força dos pulmões, e afundava. A fossa era velha, nunca tinha sido limpa, então a senhora imagina…

A cena, imaginamos, não era bonita. Uma criança afundada na m… e apavorada. O que aconteceria a seguir?

– Pois a senhora sabe: Filho da gente a gente cuida. E a Maria, vendo o Mosquito afundar e aparecer, todo bosteado, enfiou a mão na massa, sujou-se toda e conseguiu tirar o Mosquito da fossa.

Tragédia consumada, todo mundo prendia o riso. Afinal, não tinha acontecido nenhuma tragédia. A Maria e o filho estavam sujos, “bosteados”, como disse, mas isso era fácil de resolver, nada que um bom banho não tirasse.

– Então, tia, depois de tirar o Mosquito, a Maria o levou para o tanque, primeiro, deu um primeiro banho. Depois, no chuveiro, deu outro banho.

Dona Branca, observando e sendo simpática, comentou:

– Acho que é o que qualquer mãe faria.

– É, sim, tia. Só que, dois anos depois, o menino ainda tinha um pouco daquele cheiro.

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