TÃO PERTO E, AO MESMO TEMPO, TÃO LONGE

No Brasil, existem dois mundos que estão, ao mesmo tempo, tão longe e tão perto

Nos últimos meses tenho me debruçado sobre números e pesquisas envolvendo o que os pesquisadores e especialistas chamam de “a nova classe média no Brasil”. Os números dizem que ela tem força, quer comprar, sabe o que quer e mira em seus objetivos. Ao mesmo tempo nos dizem que o número de pobres em todo o país está diminuindo o que, por outro lado, significa a ascensão social de milhões de pessoas e sua entrada no mercado de consumo, o que enche os olhos de empresários, sobretudo do comércio.

Não contesto os números, mas acho que não escondem uma realidade que, muitas vezes, fingimos que não vemos, separando partes da sociedade por enorme fosso, quase intransponível para milhões de famílias em todo o país. A reflexão ocorre baseada no meu próprio caminho, que sai do interior, do meio rural, cheguei à  cidade grande e consegui me estabelecer e posso dizer, com orgulho, que cheguei onde muitos gostariam de estar graças ao trabalho duro e ao esforço diário, o que muitas vezes me levou a deixar a família um pouco de lado.

Eram outros tempos. Outras condições. E recebi oportunidades que um grande número de jovens hoje não tem. Pude estudar, ir à  Universidade, conseguir trás diplomas e trabalhar, ficando em uma redação onde comecei como “foca” – o antigo estagiário das redações de jornais, revistas, rádio e TVs – e cresci, graças à  época aos ensinamentos de um velho jornalista, Jackson Lima, que transformou-se quase em um segundo pai. Foi ele quem me guiou no meio, mostrando-me caminhos e tendo a paciência de ler o que escrevia, corrigindo-me e apontando o meio certo de relatar um fato, uma notícia. Aprendi na prática o que, anos depois, veria na teoria no Curso de Jornalismo.

E hoje, como as coisas funcionam? Bem diferentes, posso dizer. No caso das redações, então, nem se fala. Mas isso é verdade também para outros setores. O meu primeiro emprego eu o consegui 15 dias depois de chegar a Vila Velha. O segundo, menos de quinze dias depois de deixar o primeiro. O que vemos, agora, são milhões de pessoas tentando concursos, fazendo uma infinidade de provas e buscando uma colocação que, a cada dia, está mais disputada, mais difícil. A dificuldade é diretamente proporcional ao status social de quem batalha pelo emprego.

O fosso é grande entre um jovem das chamadas classes A e B e os das outras classes. São os primeiros que tem maiores oportunidades de estudo. São eles que tem o suporte da família para estudarem para os concursos e são eles, ainda, que melhor preparados acabam ocupando os principais empregos. Houve evolução, é claro, como mostram as pesquisas e os dados dos economistas, mas o fosso ainda permanece largo e difícil de ser cruzado.

Talvez não vivamos mais na Belíndia – expressão cunhada pelo economista Edmar Bacha para dizer que o Brasil era metade Bélgica, com o seu alto nível de vida, e metade Índia, mergulhado na pobreza – mas ainda temos muito que acertar até promover uma maior justiça social. Hoje, temos dois mundos. Eles estão, ao mesmo tempo, tão pertos e tão longes. Perto, pela interligação que tem, já que muitos dos que estão próximos de nós vem uma parte que só conhecemos do noticiário. E tão longe pela disparidade social e de renda.

Não sei como fazer, mas é preciso diminuir o tamanho do fosso, oferecendo à  maior parcela da população brasileira as oportunidades de crescimento e fazendo com que não haja mais um grande fosso, a separação. É preciso que aproximemos os dois lados se quisermos um futuro melhor para filhos e netos. Estou seguro disso.

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