Jornais impressos, processo caro de impressão. Sem futuro

JORNAIS, CRÔNICA DE UMA MORTE ANUNCIADA

Os jornais impressos, no Brasil e no mundo, passam por um momento singular, procurando descobrir um meio que garanta sua sobrevivência devido à expansão da mídia digital. Os jornais, aliás, tem sido assunto neste blog e a razão é que venho do meio impresso, vivi nele muitos anos, ajudei na expansão deste meio no Espírito Santo e, hoje, o vejo decaindo, perdendo circulação, influência e com o olhar de quem está do lado de fora, constatando o que todos os especialistas dizem: os jornais impressos estão perdendo publicidade, essencial para a sobrevivência deles. No Brasil, este cenário ainda é um pouco atenuado, mas lá fora, as coisas estão muito piores.

Mas por que estou voltando ao assunto? Nesta semana li um artigo publicado por Clay Shirky, um estudioso dos Estados Unidos, que tem se debruçado sobre o futuro dos jornais impressos. O que ele diz é de uma crueza rude. O resumo: os jornais impressos não tem futuro. Como mudar isso? Talvez, afirma, os jovens de 25 anos comecem a pedir as notícias de ontem, uma vez por dia, sem nenhuma possibilidade de interação ou compartilhamento. Os jornais impressos, hoje, são assim. E sempre foram. Durante muito tempo, faziam sentido. Hoje, com a mídia e os meios de comunicação on line, não mais. Tudo – ou quase tudo – que os jornais publicam já foi divulgado, comentado, discutido e debatido. Então, pra que o jornal do dia seguinte que traz as notícias de ontem.

Em um antigo artigo, Shirky chega a defender que, como no caso do livro impresso, os jornais como os conhecemos hoje virarão um produto de nicho. Agora, o que observa é que o maior problema dos jornais impressos não está nos leitores – que estão em queda, é verdade – mas na receita publicitária. Tomando-se como base os Estados Unidos, que sempre foi modelo para a indústria de jornais, a receita publicitária do segmento voltou à base dos anos 20 do século passado, mesmo com o acréscimo da publicidade on line. Com a receita encolhendo, é preciso cortar custos, o que significa demissão de pessoas, principalmente jornalistas, empobrecendo o produto oferecido ao leitor.

Shirky considera inevitável a migração dos anunciantes e explica que, em todos os negócios, o que se busca ao anunciar é público e com a prevalência da mídia digital, a maior parte do público está nela, principalmente os mais jovens. Aqui no Brasil, agora mesmo, a Associação Nacional de Jornais acabou de realizar um congresso e, pelo que li, a maior preocupação das empresas é criar plataformas que permitam o aumento do faturamento publicitário. E é isso, argumenta Clay Shirky, que não irá acontecer. Afinal, os leitores estão diminuindo e, com eles, o atrativo que os jornais oferecem para os grandes anunciantes.

Se de um lado o meio enfrenta enormes desafios para permanecer, do lado dos jornalistas também eles estão presentes. Primeiro, é preciso olhar à frente e ver a possibilidade de desemprego, devido à diminuição das redações, um fenômeno que há muito chegou ao Brasil. E nesta perspectiva, é preciso se preparar para atuar em outros meios, buscando alternativas de formação e de aquisição de habilidades que serão úteis aos profissionais em outros campos. Uma coisa é certa, o mercado vai diminuir – pelo menos em um primeiro momento – já que as demandas criadas no meio on line são muito menores que no lado da informação impressa. E, neste caso, muito da informação divulgada é produzida por não especialistas.

Enfim, parodiando Gabriel Garcia Marques, o futuro dos jornais impressos é uma crônica de uma morte anunciada.

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