FORTÕES, CÉREBRO, COMIDA E LIBIDO

Exercícios físicos e ganho de musculatura estimulam o cérebro, dizem os cientistas. Afirmam também que devemos deixar a feijoada de lado e comer salada. Acho que esqueceram de olhar as áreas pobres. Nelas, a teoria é outra e a prova é o número de filhos. Talvez eles não saibam e não se importem com o que os cientistas dizem.

Os jornais do final de semana não são um mundo de novidades e quase todos eles investem no que no jargão do jornalismo chama-se de matérias especiais. São reportagens pré-programadas durante a semana que servem ao leitor os mais variados assuntos, indo de um receituário de como obter emprego até a melhor forma de conquistar a simpatia de alguém.

Confesso que isso, geralmente, não me interessa. Uma das matérias publicada neste final de semana, no entanto, chamou minha atenção. A razão foi a afirmação que fazia, dizendo que os fortões – sim, estas pessoas que gostam de exibir os músculos – estão, na verdade, estimulando o cérebro. Pelas práticas que adotam, eu pensava que era o contrário. Estava errado e a ciência prova que ganhar músculos faz bem ao cérebro, estimulando-o.

Que o exercício faz bem, todos nós sabemos. Que um corpo mais magro, em bom estado físico, é mais saudável do que um obeso, também. Mas daí dizer que os fortões estimulam o cérebro vai um longo caminho. O pior é que, para minha surpresa, a ciência prova isso. E eu creio na ciência, mesmo que o resultado da pesquisa contrarie minha crença. Ou será preconceito.

A notícia não parava por aí. Emendava dizendo que os especialistas estão, hoje, recomendando o que chamam de alimentação funcional, o que quer dizer que passaríamos a comer o que o nosso corpo precisa. Acho que é uma boa medida. Afinal, o alimento deve ser saudável e quando ingerido deve se destinar não só a nos satisfazer, mas a ajudar que nos tornemos ou nos mantenhamos saudáveis. Sim, tudo bem. Mas convença um carnívoro de que ele deve comer verduras e legumes e deixar a carne vermelha de lado?

Nós, humanos, somos racionais, é verdade. Mas quanto se trata de alimentação, nem tanto. Normalmente, nos alimentamos com o que gostamos e deixamos de lado, por melhor que seja para a saúde, os alimentos que não nos agradam. Se fôssemos racionais, ninguém comeria, por exemplo, uma feijoada. Com certeza, ela não faz bem à saúde. Mas a maioria não consegue resistir. Mas os cientistas continuam insistindo, e provam com pesquisas, que devemos comer de forma funcional. Será que eles fazem isso?

Bom, mas a notícia não parou por aí e trouxe, ao seu final, uma afirmação ainda mais surpreendente: quem não se nutre de forma adequada, perde a libido. Como? O que? De quem? Acho que há algum equívoco aqui. E acho que isso é fácil de mostrar. Basta ver no Brasil as áreas mais pobres e o número de filhos que cada família tem. Em várias áreas falta comida, mas os filhos abundam. Quem é que perdeu a libido?

Tá certo, eu acredito que os fortões estimulam o cérebro, que a comida deve ser funcional e no que a ciência diz. Mas acho que no caso da subnutrição, que é um problema sério em todo o mundo – com exceção de alguns poucos países – as coisas não funcionam como os cientistas dizem, não. Se funcionasse, o número de filhos e de crianças seria bem menor.

A sensação que fique, no final, é de que a ciência – e isso é certo – busca resposta para tudo. Mas quanto mais ela se aprofunda, mais questões surgem. E os cientistas também podem errar, principalmente quando querem confrontar a realidade e tirar exemplos do primeiro mundo ou de áreas mais ricas para as mais pobres. Acho, até, que entre os mais pobres, incluindo os subnutridos, ninguém sabe o que é libido. Então, continuam a vida.

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