POL͍TICA, POPULARIDADE E APROVAÇÃO

Sei que política não é um assunto que agrada, mas volta e meia, estou falando dela aqui, no blog. E tem uma justificativa, que repito. Acho que a política é fundamental e é exatamente por nos alhearmos dela que temos maus representantes e maus governantes. Nossa participação – e não falo somente do voto – pode fazer a diferença, educando, convencendo, mudando opiniões. E é sobre opiniões que quero falar. Tomemos o caso do presidente Lula. No círculo que frequento o que mais ouço são reclamações sobre o seu Governo e a política por ele adotada. O que de menos dizem dele é que é um iletrado, o que é verdade, mas não o torna um despossuído de conhecimento.

De forma diferente, temos uma situação parecida no Espírito Santo, onde o governador Paulo Hartung navega, desde o seu primeiro mandato, em altos níveis de popularidade. Tanto no caso presidencial, quanto no capixaba, os dois não são – e não teriam como ser – unanimidade. Existem críticos e uma boa parcela da sociedade concorda com o que dizem. Acirradas, às vezes, leves em outras, estas críticas miram nas políticas desenvolvidas pelo Estado, mas resvalam, principalmente em relação ao presidente, no seu próprio comportamento pessoal, no que fala, no que faz e no que deixa de fazer.

De que modo estas críticas – que muitas vezes são justas e corretas – afetam estes governos? No caso do presidente, o que se tem visto, é que não afetam. Apesar da barragem da mídia, dos mensalões e mensalinhos, das caronas para o Lulinha, das gafes cometidas, do uso da máquina para fazer política, ele continua com alto nível de aprovação. A população brasileira, em sua maioria, aprova o que o Governo faz e, para dizer o menos, se diverte com o que o presidente diz, com as galhofas nos seus discursos, com as tiradas de mau gosto que faz. O alto grau de aprovação, muito mais pessoal do que do próprio Governo, o imuniza, blindando-o das críticas e fazendo com que a oposição pene para encontrar assuntos e situações que consigam penetrar nesta blindagem.

O que acontece, então? Primeiro, no nível político é muito difícil ficar contra quem tem alto grau de aprovação. Política – no país, no Estado e no município – se faz com voto e uma forma de consegui-lo é navegando a favor da maré, aproveitando-se da popularidade de um governo e do que ele pode fazer, por exemplo, por uma determinada área, onde o político tem voto. Neste campo, o bolsa família é imbatível. aliás como toda e qualquer política de inclusão social. Afinal, vivemos em um país onde o fosso entre os que tem e os que nada tem é muito grande e qualquer estreitamente dele beneficia milhões de pessoas. Fazer política voltada para o pobre é garantia de sucesso.

Voltando à questão, a popularidade, a alta aprovação, que leva a um maior alinhamento político, acaba dificultando, e muito, a vida de quem faz oposição. Na linguagem da política não existe meio termo. Ou você é a favor ou está contra. E quem defende o governo e o governante sempre dirá que ele está fazendo o melhor, ajudando o povo, promovendo o desenvolvimento, enfim, está fazendo o bem. E na oposição, por outro lado, o discurso é o inverso, do desgoverno, do descalabro, do mau uso do dinheiro público, do desperdício, enfim, está fazendo o que não devia ser feito. Se as posições invertem-se, mudam-se os discursos, com a oposição adotando o tom do governo e, este, de oposição. Não há, nesta disputa, espaço para o cinza. É branco ou preto, somente.

É exatamente neste espaço, de segmentos contrapondo-se, que a participação pode provocar a mudança. Acrescenta-se, então, ao debate uma área cinza, mostrando que nem tudo que o Governo faz é ruim e nem tudo que a oposição diz, é bom, ou vice-versa. É preciso reconhecer as boas iniciativas, mas ter sempre o campo aberto para a crítica, que pode ir do comportamento pessoal do governante às suas ações, sem adotar o tom de que está tudo errado ou tudo certo. A adoção do discurso do bem contra o mal é reducionista e, como tal, perde em perspectiva. A participação, sobretudo de quem tem mais qualificação, devolve esta perspectiva, mostrando que, sim, pode ser feito de forma diferente e também apontando os setores que precisam de ação e o caminho para tomá-las, esclarecendo o cidadão que, assim, pode mudar sua postura e sua opinião.

Se a participação na política, olhando-se em plano geral, é uma necessidade, em casos de governantes com alto grau de aprovação ela se torna essencial, até uma forma de contrapor-se a esta quase unanimidade, abrindo-se um espaço para o debate qualificado, sem olhar o governo ou a oposição como inimigos, como aqueles que procuram desfazer o que o outro fez, simplesmente por estar de lados opostos. Sem participação vamos continuar reclamando, apenas. Participando, podemos fazer parte da solução.

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