OLHANDO O NADA IMPORTANTE

A ciência e as pesquisas que ela nos proporciona são muito importantes, certo? Errado. Depende do que se pesquisa. Se é o canto dos grilos, para os identificar, ou a constatação de que baleias emitem sons diferentes à vista de objetos diferentes, não creio que sejam assim tão fundamentais. Como notícia, são engraçadas, não há dúvida, e nos chama a atenção, mas é puro desperdício de dinheiro. Aliás, como na constatação do nascimento de um tubarão de uma mãe virgem ou no fato de para as aranhas o tamanho do órgão genital importar na hora do acasalamento. O fato é que a ciência está cheia de fatos e de pesquisas estranhas, indo do desenvolvimento de um peixe transparente, passando pelas flexões dos lagartos na hora do namoro e chegando aos cães que sentem quando estão sendo injustiçados. Nada disso é importante, mas nós as lemos. Com isso, mesmo olhando para o que não é importante, nossa atenção é chamada para ela. Então, o que você acha? Sabe de alguma pesquisa sem importância?

Imagine se alguém vai ler o que se escreve começando com um título desses? Se hoje não lemos o que é importante, então não há muita chance de que o nada importante seja lido. Apesar disso, é do que vou falar, começando por uma pesquisa a que um especialista tem dedicado anos e anos: identificar os grilos pelo som que emitem. A propósito, qual é o som que os grilos fazem e como ele se chama? Se você souber, por favor, me diga. Mas, na verdade, isso não é importante  tampouco o é a pesquisa, feita por um professor de Taiwan, que tem a maior coleção do mundo de, adivinhem, grilos. O que me aconteceria se não tivesse lido esta notícia?

A propósito ainda de grilos, uma coisa que você talvez não saiba é que, na China, eles são uma iguaria, vendidos fritos inclusive nas feiras populares. E são, também, personagens de renhidas lutas, que atraem muita gente, daí o fato de serem criados e treinados para as “arenas” chinesas. E o que você deve saber é que, em bandos, eles podem ser, se não mortais, pelo menos devastadores. Mas chega de grilos. Vamos falar de peixe e, mais especificamente, de tubarão. Pois não é que um cientista descobriu que um deles havia nascido de uma mãe virgem. É isso mesmo. Ela não tinha tido sexo com um macho, mas ficou grávida e dessa gravidez nasceu um tubarãozinho. A prova? Um exame de DNA feito no bicho. Que surpresa, não? Notícia muito importante.

Saiamos um pouco do mar e voltemos à terra e a duas notícias nada importantes. A primeira é que os cães – dizem que são os melhores amigos do homem – sabem quando seus donos estão sendo injustos com eles. E a comprovação vem de uma pesquisa feita por cientistas dos Estados Unidos. Tais como as crianças e os macacos, eles sentem quando estão sendo injustiçados. Impressionante e capaz de nos fazer refletir seriamente sobre como nos comportamos em relação aos cães. E a segunda? É sobre aranhas – lembram-se do filme Aracnídeos? – para quem o tamanho é muito importante na hora do sexo. E quem descobriu isso? Adivinhou se disse que mais uma pesquisa científica.

E como o assunto é sexo, que tal falarmos dos lagartos, ainda continuando na terra? Sobre eles, o que as últimas pesquisas descobriram é que são uns exibidos e que fazem flexões para chamar a atenção das fêmeas, principalmente se estão em lugares com muito barulho. Então, fica decidido que, a partir de agora, quando você ver um lagarto fazendo flexões é porque ele está interessado. Não, não é em você, mas em uma fêmea da sua (dele) espécie.

Voltemos ao mar e falemos das baleias. No Japão, cientistas descobriram que uma baleia beluga faz diferentes sons, dependendo dos objetos que lhe são mostrados. O que eles não descobriram, ainda, é o que o som quer dizer. Provavelmente, ela deve estar entediada de toda hora ficarem mostrando coisas diferentes. E que tal um traje a prova de água para um pinguim? Mas, espera aí, os pinguins já são impermeáveis. Pelo menos é o que o Discovery Channel nos diz. Mas neste caso, o bicho estava ficando careca e, para sua proteção, os cientistas desenvolveram um traje que vai impedir que se molhe. O que dirão os seus (dele) colegas? Certamente, pela importância do fato, ele vai ser muito gozado. Mas, peraí, pinguim não é gente.

E para finalizar uma outra pergunta: Qual é a melhor forma de você ver uma doença? Cientistas estão respondendo a esta pergunta desenvolvendo um peixe que é transparente. Como podem ver todo o seu interior, podem, também, ver como determinada doença nele se desenvolve. Se vão conseguir curá-la é outra questão, mas podem documentar, direitinho, o que ocorre. Bom, imaginemos que dê certo. Será que o próximo passo será criar um ser humano transparente. E não é, aqui, no sentido figurado, não. É transparente mesmo.

Veem como a ciência e as pesquisas que ela desenvolve são importantes? E tal importância se reflete nas notícias sobre o que os pesquisadores estão fazendo, informando-nos do maravilho desenvolvimento que a ciência tem conseguido em todo o mundo. Agora, falando um pouco mais sério: Nos casos aqui relatados – talvez com exceção do peixe transparente – a ciência não está fazendo bom uso do dinheiro destinado às pesquisas. Certamente há coisas muito mais importantes para ser pesquisadas. Você concorda? A propósito, como deve ser um filé de peixe transparente?

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