IRMÃOS, IRMÃS, MARIDOS E ESPOSAS

Não sei quão corriqueiro é hoje, mas há¡ alguns anos não era muito comum ver dois irmãos casados com duas irmãs. Do que conheço, existem apenas dois casos, um que se reporta à minha infância e outro que já¡ ocorreu nos tempos mais atuais, quando já¡ estava casado e tinha filhos. Talvez, nos dois casos, a história seja semelhante, mas não sei, na verdade, as circunstância de nenhum deles, embora tenha vivido o segundo muito mais de perto que o primeiro.

Nasci, cresci e fiquei até a adolescência no que se chamava, na época, de roça. Minha família era proprietária de uma pequena fazenda e, nela, morávamos, quase que lado a lado, com um dos meus tios paternos. Antes, já havíamos morado próximo, mas ele se mudara da fazenda após perder sua única filha. Depois disso, nós também mudamos a acabamos, de novo, ficando próximos, mas não tão perto quando da volta para a fazenda. Primeiro, foi meu pai que decidiu deixar o lugar onde morávamos, chamado São José do Caparaó, então no município de Alegre, no Sul do Espírito Santo e, hoje, pertencendo ao município de Ibitirama.

A história, no entanto, não se prende às idas e vindas da família, mas ao fato de minha mãe ser irmão da mulher do meu tio. Papai, neste caso, casou-se com a irm㣠mais velha e, meu tio, que era mais velho que papai, acabou se casando com a irmão mais nova da mamãe. O que sei é que meus pais se conheceram antes e também se casaram um pouco antes. Depois, meu tio Ozorinho acabou conhecendo tia Luzia e se casou com ela. Os dois casais moravam na fazenda do meu avô, só repartida entre os irmãos após sua morte. Morávamos em locais diferentes da fazenda, a uma certa distância, mas as coincidências continuavam com o fato de ambos os casais ter um único filho.

Sei que a certa altura, minha prima ficou doente e, como acontecia com frequência em uma época que médico e remédios eram coisas de luxo, veio a falecer. Minha tia ficou arrasada, o mesmo acontecendo com meu tio. Devido à morte, eles decidiram-se mudar e foram para São José do Caparaó, onde compraram uma propriedade. Algum tempo depois, foi meu pai, para trabalhar na fazenda de outro tio, que fora casado com uma outra irmã de mamãe. Na mudança, continuamos sendo trás em nossas famílias, mas no caso do meu tio, nasceram duas meninas e dois meninos, devolvendo a alegria que tinham perdido com a morte da primeira filha.

O convívio, na volta a fazenda, durou alguns anos e, em determinado momento, papai decidiu vender o que tinha ao tio Ozorinho e mudar-se para Iúna, onde moravam dois outros tios. Foi lá que ele passou os seus últimos dias produtivos, antes de ficar doente, vir para Vitória por minha insistência e, com o avanço da doença, acabar falecendo. Meu tio ficou na fazenda, até adoecer, ser hospitalizado e falecer. Encerrava-se, assim, a história de dois casamentos de irmãos e irmãs. Achava que não mais veria casos de dois irmãos casados com duas irmãs, mas não foi o que aconteceu.

Quando eu já¡ estava casado, um dos meus cunhados conheceu a filha de um dos meus maiores amigos – quase um novo pai para mim – e se apaixonou por ela. Mais velha, a Ângela passou a olhar o Renato como um menino, o que verdadeiramente era, mas ele acabou conquistando-a. Casaram-se e logo depois tiveram um lindo filho, o Gustavo, que vivia na minha casa, junto com meus filhos. Pois não é que depois do envolvimento do Renato e Ângela outro cunhado, o Júlio, se envolveu com outra irmão, a Márcia, e também acabaram se casando. O curioso é que, neste caso, também a filha mais velha casou-se com o irmão mais novo, repetindo, de certa forma, o que ocorrera com meu pai e meu tio.

O que explica estas aproximações? O que estabelece este tipo de atração. Não sei. O que sei é que acontecem, como ocorreu com meus tios e meus cunhados. Às vezes, dão muito certo, como no caso dos meus tios. Noutras, nem tanto, como no caso de meus cunhados. O fato é que fazem parte da vida humana.

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