EU SOU MESMO IMPORTANTE?

Se acreditarmos nos emails que recebemos todos os dias, somos importantes e esta importância é que faz com que ganhemos na loteria, nos ofereçam dinheiro, tenhamos inúmeras fãs. Também podemos ser investigados pela Justiça, pelo Ministério Público ou um especialista em segurança dizer que tivemos problemas com o email, que será resolvido com o fornecimento de nossos dados. Aliás, é exatamente o que todos querem: os nossos dados. E, aparentemente, este esquema funciona, pois os emails continuam a chegar. De milhares ou milhões, alguém pode cair no golpe, que usa a ingenuidade ou desinformação, aliás como na vida real, para enganar as pessoas. Em se tratando de emails, todo cuidado é pouco. É preciso controle e cuidado para preservar nossos dados. E você, como lida com o spam, principalmente aquele que pede dados, que anuncia premio ou oferece as últimas fotos das mais belas mulheres?

Nos últimos dias, graças aos e-mails que tenho recebido, comecei a me julgar uma pessoa importante. Primeiro, ganhei várias fãs. Todas elas querem que eu as veja – a maioria, nua – e que lhes dê atenção. Os e-mails se repetem, se repetem e se repetem. Pensando bem, ao não atendê-las, acho que estou sendo um insensível, que não olha o sentimento dos outros e nem dá importância aos apelos recebidos.

Se fosse só isso, tudo bem. Mas não é. E de repente descobri que existe um chinês me oferecendo dinheiro, e é uma bela quantia. E isso sem contar que também ganhei na loteria. Nos dois casos, tudo o que tenho de fazer é enviar os meus dados e aguardar que o dinheiro chega. Não sou mineiro, mas fiquei desconfiado e, em função dessa desconfiança, acho que vou aguardar a confirmação do oferecimento ou de que, realmente, fui sorteado. Afinal, como a maioria, um dinheiro extra não faria mal.

Mas se de um lado vêm os oferecimentos, de outro, fiquei meio assustado, já que estou sendo convocado pelo Ministério Público Federal, pela Procuradoria Geral da República, pelo Tribunal de Justiça e por especialistas em segurança. Nos três primeiros casos, dizem que tenho de me reportar a investigações que estão sendo feitas. E posso fazer isso de forma simples: basta baixar um anexo, preenchê-lo e encaminhá-los aos órgãos requisitantes. Simples, assim.

No caso do especialista em segurança, fiquei assustado. Afinal, disse-me ele, tentei acessar o meu e-mail e não consegui, por ter digitado a senha errada. Então, tudo ficou travado e para que volte a funcionar tenho de lhe informar os meus dados. Assim, ele consegue fazer com que tudo volte ao normal. O estranho é que o e-mail veio de um provedor que não sou assinante. Como foi que ele descobriu que eu tenho problema? Isso me deixou meio desconfiado e, como no caso da lateria e do dinheiro, resolvi esperar um pouco mais.

Preocupado com o dinheiro, com as investigações e com os problemas no e-mail, quase que não vejo as requisições que irão facilitar minhas compras de final de ano. Estão querendo me vender, a perder de vista e com preços camaradas, computadores, televisores e outros objetivos, de desejo ou não. E posso comprá-los com toda comodidade, via internet. O que preciso? Apenas de um cartão de crédito e disposição para assumir gastos em tempos de crise e de encolha do dinheiro. Por falar nisso, se recebesse o prêmio poderia fazer as compras, não?

O que relatei aqui é fruto da leitura dos e-mails chegados em uma manhã. Como no meu caso, milhões de pessoas no mundo todo estão recebendo e-mails similares. A internet está cheia de ofertas como estas e todas são destinadas a pegar os incautos, aqueles que são crédulos, que não olham o que estão fazendo. E olhem que isso pode ocorrer com pessoas muito esclarecidas. Já vi acontecer do meu lado, com um amigo que ia fornecendo a senha do seu banco para um destes e-mails que, não por acaso, dizia que era do banco onde tinha conta.

Neste mundo de phishing e de golpes virtuais, todo cuidado é pouco. A cautela nos diz que, em princípio, é preciso desconfiar das ofertas e, mais ainda, dos e-mails que imitem bancos, órgãos de investigação, etc. Muito mais com quem oferece facilidades, sobretudo dinheiro. Como dizia Milton Friedman, não existe almoço de graça. E, no caso dos e-mails, o seu atendimento pode nos custar muito, muito caro.

Como não conseguimos evitar o spam, por mais que estabeleçamos controles, o que podemos e devemos fazer é ficar atentos. Com isso, evitamos abrir e-mails inconvenientes, que nos dizem que somos importantes, desejados, que ganhamos uma bolada ou que estamos sendo investigados. Eu sei que nada disso é verdadeiro, mas muita gente deixa-se enganar. E a prova mais cabal disso é a quantidade deste tipo de e-mail.

A internet, neste caso, não é muito diferente da vida real. Nela, os golpes são comuns. E quem os dá se aproveita da boa fé ou do desconhecimento dos seus “alvos”, aliás, exatamente como na vida real.

Como não sou importante, tomo todos os cuidados. E você, o que faz com os spams? Tem alguma história de problema com eles? Como todos nós os recebemos, acho que é um bom tema para se discutir. Enquanto isso, todo cuidado é pouco.

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