EU ESTOU É ENCORPANDO…

Já vem de algum tempo, como vocês sabem, a criação, neste blog, de uma categoria chamada Cotidiano. Nela, quase sempre, estão contidas situações do dia a dia que presencio ou que alguém me conta e que, por achar interessantes ou inusitadas, acabo trazendo para este espaço. Se não estou enganado, um dos primeiros assuntos tratados foi sobre garotas de programas e o eufemismo por elas – ou especificamente utilizado por uma – utilizados para mascarar esta atividade, como se pode ver em O nascimento de um eufemismo.

Desde então, os mais variados assuntos tem sido abordados e colocados sob esta etiqueta. Vão desde o comportamento de pais em relação às crianças e o consumo de junk food, até questões mais comuns, como a postura adotada em relação a um assunto. Para estes temas um dos melhores lugares são os shoppings e, neles, as praças de alimentação. Ao mesmo tempo que podemos constatar a diversidade de pessoas e de gostos, podemos, também, nos deparar com situações que nos chamam a atenção e, com elas, ver nascer ou se desenvolver um novo eufemismo ou constatar um novo tipo de comportamento.

Nas praças de alimentação, todos estão próximos. Então, não há como não captar parte das conversas, saber do que estão falando, por mais que você se concentre na sua própria comida ou dá atenção maior a quem o está acompanhando. E foi em uma situação dessas que, há alguns dias, vi o que pode ser o nascimento de um novo eufemismo. Em uma mesa ao lado da minha, um grupo de amigos almoçava. Nele, a conversa rolava solta e um dos seus objetos era a comida, com as pessoas falando de suas preferencias – incluindo os sanduiches – e entrando no volume consumido a cada dia.

Bem humorada, uma das meninas do grupo, talvez a partir do comentário de outro participante – que não cheguei a ouvir – emendou: Engordar? Que nada. Como diz a minha mãe eu estou mesmo é encorpando. E caiu na gargalhada. Esguia, a menina gorda não era, mas talvez o ideal de beleza, que é de alguém muito magro, já a tivesse atingido e estivesse, então, referindo-se ao passado, quando era mais magra. De qualquer forma, a palavra engordar surgiu meio que como tabu, daí o eufemismo do “encorpando” que, literalmente, significa ganhar corpo.

Como cheguei no momento em que o grupo estava terminando, todos se levantaram e, certamente, seguiram com sua vida, voltando ao trabalho – pois parecia um grupo que trabalhava em um único local, pelo tom da conversa. Eu que ainda iria terminar de almoçar, fiquei pensando sobre a questão de até que ponto o engordar afeta as pessoas e o seu comportamento ao ponto de arranjarem um eufemismo para tratar do assunto. É certo que, neste caso, não sei se a abordagem era séria ou uma simples brincadeira. Mas o eufemismo estava lá, presente e mascarando uma coisa que ninguém gosta de ser, gordo.

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