AS DIFICULDADES PARA SE CASAR

Sou de uma geração em que o casamento começou a ser desmistificado. Na verdade, a partir do movimento hippie, o casamento como instituição foi contestado nas suas fundações, colocados de lado e, por algum tempo, abandonado. Pelo menos por uma parte da minha geração. O sonho de casar-se e fazê-lo com pompa, em uma igreja, não passou pela cabeça de muitos, que não se submeteram a uma regra que, para eles, estava morta. Houve, efetivamente, uma revolução nos costumes, mas como uma mudança gera a outra, as coisas evoluíram e, no final, o que temos é a volta ao desejo de casar-se formalmente, na igreja, com festa e com tudo o que os jovens acham que têm direito.

Este mesmo assunto, o do casamento formal e, devido a ele, a necessidade de se escolher uma igreja para formalizar uma união, já foi objeto de comentário aqui, no blog – Jovens, casamento e rebeldia – e se volto a ele foi provocado por uma matéria veiculada pela TV Gazeta, de Vitória, e repetida para todo o Espírito Santo. Basicamente, a informação é: jovens que querem se casar, principalmente na Igreja Católica, têm dificuldade em encontrar datas disponíveis e, por isso, têm de se planejar com muita antecedência. Existem igrejas que todas as datas já estão preenchidas até 2011 e uma forma de resolver o problema é a adoção de casamentos coletivos, reunindo em uma única cerimônia mais de um casal.

Por que isso? Não sei dizer. Acho que demandaria uma pesquisa e ela sim poderia determinar o que leva a este desejo de ter uma cerimônia religiosa no casamento e, depois dela, quase sempre uma festa. O outro lado da questão é que, mesmo submetendo-se a todo este ritual, os casamentos hoje são muito mais frágeis. Aquela história de “na alegria e na dor, na saúde e na doença”, não é mais a norma. As pessoas se separam quase que com a mesma velocidade com que se casam. A cerimônia pública, no meu entender, serve apenas como uma afirmação, uma forma de mostrar à família e aos amigos um comprometimento que pode ou não durar.

A questão não se prende, apenas, à cerimônia, mas o casamento virou, se assim podemos chamar, um grande negócio. Afinal, depois da igreja vem o cerimonial para a festa e tudo que nele está envolvido, dos canapés à bebida. Antes, têm a arrumação da igreja, que precisa ser decorada. Envolve, também, o cerimonial, que irá determinar quem fica onde e quem é que faz o que. Pode envolver o transporte da noiva em um carro especial, tipo limusine, e é obrigatório a existência de fotógrafos que registrarão não só a cerimônia religiosa, mas a festa e o antes da noiva, produzindo o indefectível álbum de casamento. E tem mais, muito mais, o que leva um casamento a custar uma pequena fortuna.

Hoje, como ontem, olho tudo isso sob uma ótica crítica. Acho natural que as pessoas – ao contrário de uma boa parte da minha geração – quererem consumar sua união com uma cerimônia pública, feita em uma igreja, dentro da fé que professam. Mas não vejo sentido em se começar a vida gastando-se uma pequena fortuna. Sou dos que acham que o dinheiro pode ser usado em outras coisas, em uma viagem de núpcias, por exemplo. Mas estou desconfiado que, com as mudanças ocorridas nos últimos tempos, sou meio que old fashioned.

As mudanças ocorridas nos últimos anos que levaram a este desejo de um casamento público, como mostra a matéria da TV Gazeta e que faz com que para casar-se haja uma programação muito antecipada ou uma espera prolongada, colocaram-me e às minhas opiniões fora deste tempo. Para quem planeja casar-se, minha opinião não importa. O fato é que as igrejas católicas têm longas filas de espera e a indústria do casamento é um segmento em expansão. Os jovens, neste caso, completam seu desejo. E muita gente fatura.

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