A PROSPERIDADE QUE ENGORDA

O mundo, segundo os especialistas, vive um epidemia de obesidade. Pelo menos é assim em relação ao chamado Primeiro Mundo, composto pelos países mais ricos e onde a nutrição de crianças e adultos vai muito além do que necessitam para viver. Se olharmos os países mais pobres o panorama não é o mesmo. Graças à pobreza, o que se vê é a desnutrição, com crianças esqueléticas e, em alguns casos, com imagens terríveis vindo, sobretudo, da África de crianças subnutridas e esfaimadas, em pelo e osso. A situação mostra que se de um lado há desperdício, do outro existe falta. E se de um o consumo é superlativo, no outro há fome, mesmo.

Esta, contudo, não é a questão deste artigo. O título, aliás, chama para o tema, que decorre da prosperidade, comprovando-se que, com ela, as crianças ganham peso, crescem mais e mostram-se muito mais desenvolvidas do que quando o local onde vivem não é próspero. E isso está provado com números por uma equipe de pesquisadores europeus que se debruçaram sobre a condição das crianças na Irlanda, comparando-as e tomando por base duas datas: 1948, logo após o término da II Guerra Mundial, e 2002, parando em um outro intervalo, dos anos 70 do século passado.

O que eles descobriram é bem interessante. A primeira constatação é que, à medida que a Irlanda deixou de ser pobre, desenvolvendo-se e tendo a renda média aumentada, as crianças começaram a ganhar mais peso, crescer mais. O aumento da prosperidade, apontam, está diretamente ligado ao aumento da obesidade entre jovens e adultos. A pesquisa foi feita com crianças de 04 a 14 anos e constatou, por exemplo, que na média as crianças irlandesas de hoje pesam 24 quilos a mais do que as de 1948. O aumento se deu tanto entre os meninos quanto entre as meninas.

No caso dos meninos, eles estão 23,1 centímetros mais altos do que as crianças de 1948 e, feita a comparação, pesam 65% a mais do que quem tinha a mesma idade ao final da guerra. No caso das meninas, o crescimento foi de 1,56 centímetros e o ganho de pesa de 48%. Os autores lembram que, neste caso, não se trata de comparar um momento de desnutrição com outro com comida mais farta. Após o término da guerra a Irlanda, embora pobre, não tinha problemas para alimentar sua população. Observam, ainda, que o grande salto foi a partir dos anos 70 no século passado, quando a Irlanda se transformou em dos “tigres” econômicos, conseguindo taxas elevadas de crescimento que fizeram o seu PIB dar um grande salto.

A prosperidade, mostram os números, fizeram com que as crianças ganhassem peso, embora tivessem também crescido, ficando bem mais altas que as de 1948. A partir dos números, os pesquisadores relacionam a prosperidade com o ganho de peso e chegam à conclusão que, sim, o desenvolvimento e o crescimento econômico, que trazem maior riqueza para um país, como aconteceu na Irlanda, contribui diretamente para o aumento de peso e, com isso, pode levar à obesidade. Com mais dinheiro, as famílias consomem mais e as crianças, com outro tipo de alimentação, acabam se desenvolvendo mais fisicamente, crescendo e ganhando peso.

Os números ressaltam o paradoxo que vivemos no mundo. De um lado, alimento abundante, que leva à obesidade. De outro, alimento de menos, que provoca fome e desnutrição. Números das Nações Unidas mostram que, se bem distribuídos, os alimentos produzidos no mundo são mais do que suficientes para alimentar toda a população do planeta, oferecendo-lhe as calorias necessárias para que se nutra. Mas isso não ocorre. E uma das razões é que quem tem maior poder aquisitivo não só consome mais do que precisa, como desperdiça parte dos alimentos, como deixam antever os números da pesquisa divulgada na Europa.

É bom ver que um país pobre, como era a Irlanda logo após o término da segunda guerra, conseguiu se desenvolver, crescer e levar bem estar à sua população. Mas é triste saber que em outras partes do mundo, sobretudo na África e na Ásia, ainda temos crianças e adultos passando fome. E o pior é que, para muitas dessas regiões, não existem perspectivas de mudança. Elas sozinha não tem como mudar e o mundo – principalmente o mundo desenvolvido – está por demais ocupado olhando para o seu umbigo, não dando a mínima para a situação, mas lamentando que haja crise financeira e que tenha que conter seus gastos.

Seria ótimo que pudéssemos dizer do mundo o mesmo que mostram os números da Irlanda. Assim, teríamos crianças nutridas, bem desenvolvidas  o que, certamente, evitaria uma série de problemas. Mas isso, infelizmente, é um sonho. Ou não? (Via Eureka Alert, em inglês)

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